Navegando em solitário no veleiro Delírio na lagoa dos Patos, indo do farol de Itapuã para Tapes, vivi a experiência de ventos de aproximadamente 51 nós (94.452 km/h). Pela classificação de força 11 na Escala Beaufort, representa situações de tempestade violenta ou tufão. Relatos de Tapes falam em mais de 100 km horários; no Iate Clube Guaíba, em Porto Alegre, registraram 36 nós (66.672 km/h). Antecipar é o procedimento principal em navegação. Ensinamento fundamental de Eric Tabarly, em sua Memórias do Mar. Preparar-se e não ser surpreendido por um evento, saber lidar com os elementos. Cometi alguns erros, dos quais sempre se tiram lições. Poderiam ter sido dramáticos e inclusive levar ao naufrágio, se não tivesse funcionado as técnicas possíveis de manobra no meio do temporal. No geral, teve um erro fundamental de excesso de confiança e perspectiva que redundou em todos os problemas subsequentes. Erro 1: Vinha acompanhando a formação do temporal no horizonte, sobre Tapes e resolvi esperar mais um pouco para fechar a vela genoa de proa e diminuir o tamanho da vela grande. O vento de noroeste/oeste sugeria que o mau tempo poderia não me atingir. Todavia, ele cessou subitamente e, logo, a cabeça do bicho chegou de sudoeste encrespando a superfície da água. Erro 2: Minha perspectiva era de seguir em frente quando o temporal chegasse, ou ficar capeando. Ficar aproado é o procedimento mais adequado, desde que preparado com antecipação, nos grandes ensinamentos de Slocum, Tabarly e demonstrado tecnicamente no salvamento da Expedição Shackleton a bordo de embarcações miúdas. Erro 3: Naquela situação, resolver enrolar a genoa ao invés de baixar a vela grande, que desceria fácil no trilho roletado do mastro. O raciocínio técnico de esconder a genoa atrás da grande para enrolar a vela de proa estava certo, mas a situação não era propícia. Ao fazer a manobra, a panejada da vela, que já estava 50% enrolada, laçou um dos cunhos do mastro com a escota de boreste. Pronto! A bolsa que se formou na metade superior da genoa, com vento de 51 nós, não permitiu mais que aproasse o barco, nem com o auxílio do motor. A única solução era correr com o temporal, empopado, com toda a vela grande içada, cobrindo a bolsa formada pela vela de proa, que, nestes momentos, forma barulho assustador. A quilha longa e o estaiamento do mastro do Delírio fizeram a diferença. Em muitos momentos, o veleiro navegava com a retranca do mastro na água, com o leme sempre respondendo o rumo desejado em popa. Uma corrida louca de volta, torcendo que a força do vento diminuísse até chegar no farol de Itapuã. O percurso de três horas de velejada rumo ao Pontal de Tapes, foi retornado em aproximadamente um terço do tempo. Erro 4: Não ter fixado a filmadora antes no barco, querendo registrar o evento a qualquer custo naquela situação. Por fim, tive que jogá-la para dentro da cabine para não perdê-la. Erro 5: Navegar de chinelo de dedo, algo comum no verão. Numa situação de pauleira e chuva, o chinelo perde aderência e fica escorregadio, comprometendo a mobilidade do navegante. Resultado material: a capa da genoa rasgada e um furo na vela grande causado pela fricção com a ponta da cruzeta do mastro, além da torção da estação de vento provocada pelo temporal. Havia pensado em pousar na Reserva de Itapuã, mas resolvi prosseguir de volta a Porto Alegre para consertos. Apesar do temporal, duas semanas a bordo também tiveram momentos espetaculares no Guaíba e lagoa dos Patos, em locais como o Arado, Reserva de Itapuã e Saco/Bahia/ de Tapes. Conforme a Escala Beaufort, os ventos possuem 13 classificações de forças relacionadas à velocidade média por hora. Com pequenas substituições na designação, mas coincidentes nas velocidades médias, são as seguintes: 0, calma ou calmaria, 0-1 km/h; 1, bafagem, 2-6 km/h; 2, aragem, 7-12 km/h; 3, bonançoso ou fraco, 13-18 km/h; 4, moderado, 19-26 km/h; 5, fresco, 27-35 km/h; 6, muito fresco ou frescalhão, 36-44 km/h; 7, rijo ou forte, 45-54 km/h; 8, muito rijo ou muito forte, 55-65 km/h; 9, duro, 66-77 km/h; 10, tempestuoso ou temporal desfeito, 78-90 km/h; 11, tempestade violenta ou tufão, 91-104 km/h; e 12, ciclone ou furacão, mais de 104 km/h.
sexta-feira, 5 de janeiro de 2018
DESTINO SUL - Tau Golin
Navegando em solitário no veleiro Delírio na lagoa dos Patos, indo do farol de Itapuã para Tapes, vivi a experiência de ventos de aproximadamente 51 nós (94.452 km/h). Pela classificação de força 11 na Escala Beaufort, representa situações de tempestade violenta ou tufão. Relatos de Tapes falam em mais de 100 km horários; no Iate Clube Guaíba, em Porto Alegre, registraram 36 nós (66.672 km/h). Antecipar é o procedimento principal em navegação. Ensinamento fundamental de Eric Tabarly, em sua Memórias do Mar. Preparar-se e não ser surpreendido por um evento, saber lidar com os elementos. Cometi alguns erros, dos quais sempre se tiram lições. Poderiam ter sido dramáticos e inclusive levar ao naufrágio, se não tivesse funcionado as técnicas possíveis de manobra no meio do temporal. No geral, teve um erro fundamental de excesso de confiança e perspectiva que redundou em todos os problemas subsequentes. Erro 1: Vinha acompanhando a formação do temporal no horizonte, sobre Tapes e resolvi esperar mais um pouco para fechar a vela genoa de proa e diminuir o tamanho da vela grande. O vento de noroeste/oeste sugeria que o mau tempo poderia não me atingir. Todavia, ele cessou subitamente e, logo, a cabeça do bicho chegou de sudoeste encrespando a superfície da água. Erro 2: Minha perspectiva era de seguir em frente quando o temporal chegasse, ou ficar capeando. Ficar aproado é o procedimento mais adequado, desde que preparado com antecipação, nos grandes ensinamentos de Slocum, Tabarly e demonstrado tecnicamente no salvamento da Expedição Shackleton a bordo de embarcações miúdas. Erro 3: Naquela situação, resolver enrolar a genoa ao invés de baixar a vela grande, que desceria fácil no trilho roletado do mastro. O raciocínio técnico de esconder a genoa atrás da grande para enrolar a vela de proa estava certo, mas a situação não era propícia. Ao fazer a manobra, a panejada da vela, que já estava 50% enrolada, laçou um dos cunhos do mastro com a escota de boreste. Pronto! A bolsa que se formou na metade superior da genoa, com vento de 51 nós, não permitiu mais que aproasse o barco, nem com o auxílio do motor. A única solução era correr com o temporal, empopado, com toda a vela grande içada, cobrindo a bolsa formada pela vela de proa, que, nestes momentos, forma barulho assustador. A quilha longa e o estaiamento do mastro do Delírio fizeram a diferença. Em muitos momentos, o veleiro navegava com a retranca do mastro na água, com o leme sempre respondendo o rumo desejado em popa. Uma corrida louca de volta, torcendo que a força do vento diminuísse até chegar no farol de Itapuã. O percurso de três horas de velejada rumo ao Pontal de Tapes, foi retornado em aproximadamente um terço do tempo. Erro 4: Não ter fixado a filmadora antes no barco, querendo registrar o evento a qualquer custo naquela situação. Por fim, tive que jogá-la para dentro da cabine para não perdê-la. Erro 5: Navegar de chinelo de dedo, algo comum no verão. Numa situação de pauleira e chuva, o chinelo perde aderência e fica escorregadio, comprometendo a mobilidade do navegante. Resultado material: a capa da genoa rasgada e um furo na vela grande causado pela fricção com a ponta da cruzeta do mastro, além da torção da estação de vento provocada pelo temporal. Havia pensado em pousar na Reserva de Itapuã, mas resolvi prosseguir de volta a Porto Alegre para consertos. Apesar do temporal, duas semanas a bordo também tiveram momentos espetaculares no Guaíba e lagoa dos Patos, em locais como o Arado, Reserva de Itapuã e Saco/Bahia/ de Tapes. Conforme a Escala Beaufort, os ventos possuem 13 classificações de forças relacionadas à velocidade média por hora. Com pequenas substituições na designação, mas coincidentes nas velocidades médias, são as seguintes: 0, calma ou calmaria, 0-1 km/h; 1, bafagem, 2-6 km/h; 2, aragem, 7-12 km/h; 3, bonançoso ou fraco, 13-18 km/h; 4, moderado, 19-26 km/h; 5, fresco, 27-35 km/h; 6, muito fresco ou frescalhão, 36-44 km/h; 7, rijo ou forte, 45-54 km/h; 8, muito rijo ou muito forte, 55-65 km/h; 9, duro, 66-77 km/h; 10, tempestuoso ou temporal desfeito, 78-90 km/h; 11, tempestade violenta ou tufão, 91-104 km/h; e 12, ciclone ou furacão, mais de 104 km/h.
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